O vício de correr já está
entranhado nesse corpo desde a minha adolescência.
Quando tinha 15 anos, corria
por estradas rurais e enfrentava qualquer desafio, até cachorro brabo. Com essa
idade não existiam as dores e, consequentemente, também não havia limites. Às vezes,
pegava atalhos por dentro das plantações de milho, subia ladeiras
quilométricas, cruzava pequenos riachos e corria feito um alucinado por
pequenos povoados rurais. Imagino que naquela época isso deveria ser bem
inusitado.
Estamos falando de dezembro de
1985, quando eu descobri que existiam tênis específicos para corrida. Troquei o
meu tênis Montreal pela primeira versão do Nike Pegasus. Quem viveu nos anos 80,
vai lembrar desses tênis.
Quando Lula me disse que iria
participar da maratona de montanhas
K42 BOMBINHAS, em Santa Catarina, eu
expressei fortemente a minha vontade de ir.
Os meus olhos certamente brilharam...
Seria a minha oportunidade de voltar ao passado e de me emocionar correndo.
Como eu desejava correr a K42 Bombinhas...
Desejo realizado!
Junto com a ACORJA, embarquei
para Santa Catarina com a vontade de fazer uma corrida perfeita, curtindo as
paisagens e redescobrindo a capacidade de superar obstáculos de forma
sistemática.
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ACORJA na Pousada Vila Farol, Bombinhas (SC) |
Na pousada Vila Farol (Bombinhas-SC), logo na
chegada, Juan Carlos Asef (o organizador da prova) fez uma calorosa recepção a ACORJA.
Nos cumprimentou e convidou Lula para a coletiva de imprensa que aconteceria
logo mais à tarde.
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Juan Carlos Asef, organizador da K42, e Lula Holanda, Presidente da ACORJA. |
Antes de falar da corrida,
gostaria de dizer que essa viagem também nos proporcionou momentos de
integração e muita felicidade a partir de coisas muito simples. Na tarde da
sexta feira, fomos ao supermercado e compramos pão, queijo, leite, suco e
refrigerante. Ficamos boa parte da tarde jogando conversa fora no apartamento
de Pâmela e Almir e beliscando. O gosto do pão francês quentinho ainda está na minha boca e
a lembrança das risadas de Almir ainda ecoam na minha cabeça. Foi muito
divertido.
No dia seguinte, a largada da K42
aconteceu às 8h. No início da prova, tive o prazer de correr na companhia da
amiga Elis Carvalho (
Diário de uma Corredora) e do grande e experiente corredor
de montanhas George Volpão (
A Vida nas Montanhas). Isso me deu um gás extraordinário, pois iniciei a
corrida muito relaxado, aquecendo as articulações e esperando o momento certo
para acelerar.
Um pouco depois do quilometro 06,
existe uma ladeira de aproximadamente 1.500m que o corredor deveria respeitar
sob pena de não concluir a prova. Esse era o temido Morro da Antena. Andar
nessa subida foi uma estratégia mental já estabelecida desde que li o relato do
George Volpão sobre a K42 Bombinhas 2011.
Sabia exatamente o que estava
fazendo. Lembrei das várias vezes que conversei com Severino Henqrique e de suas dicas de como correr nesse tipo de prova.
O final dessa ladeira coincidia
com o início da trilha pela floresta, e aí voltamos a correr mais forte. Mesmo
sem chover, a trilha estava escorregadia e com bastante lama, dificultando o
estabelecimento de um ritmo, provocando certa tensão entre os corredores.
Particularmente, sentia-me em casa, pois aquele cenário não poderia ser mais
familiar. Parecia com as florestas que eu costumava visitar para observar aves,
com trilhas cheias de barro e muitas ladeiras. Isso me ajudou a perceber e a decidir
rapidamente onde pisar. Mas é necessário redobrar o cuidado, pois os músculos
começam a sentir a pressão e qualquer deslize pode comprometer a sua diversão.
Quem acompanha esse blog sabe que
eu comprei um tênis
Salomon SpeedCross 3 especialmente para correr em
Bombinhas, para enfrentar as trilhas com mais segurança. Para isso ele é
perfeito. Mas, diante da insegurança de não ter feito nenhum longão de 30 km
com ele e da previsão do tempo apresentar zero % de chuva para o fim de semana,
decidi correr com um Nike Vomero bem velhinho. Perfeito!
Entretanto, se tivesse chovido, teria
me arrependido mortalmente de ter deixado o SpeedCross em casa.
No km 16, quando a floresta
acabou, chegamos à Praia de Zimbros. Com a maré baixa, foi possível estabelecer
um excelente ritmo até o posto de hidratação que ficava exatamente no km 21. O
próximo posto de água seria dali a 5 km. Fica a dica, a partir daí, leve um ou
dois copos de água para enfrentar a trilha que dá acesso à Praia da Tainha. Tem uma subida que coloca a confiança do corredor em xeque.
Nesse momento, assim como a Elis,
só pensava em uma coca-cola gelada. Sem chances, não existia uma única birosca
nesse trecho.
Saímos da trilha e chegamos a
Praia do Mariscal. Nesse trecho, alternei corrida e caminhada, preservando as
pernas para enfrentar uma ladeira no km 31, quando a areia daria lugar ao
asfalto. Isso também fazia parte dos meus planos para vencer o percurso.
O mapa da
corrida estava todo na minha cabeça.
Nesse trecho, encontrei duas mocinhas
entregando um cubinho de gelo para cada corredor que passava. Um gesto
comovente e digno de aplausos. Isso deu uma revigorada no espírito. Parecia o
Popeye comendo espinafre.
Desci a próxima ladeira desembestado,
entrei em uma área urbanizada e encontrei um posto com água, isotônico e frutas.
Um verdadeiro oásis... Melancia doce e gelada...
Na Praia de Quatro Ilhas, foi
possível encontrar corredores nos dois sentido, pois ainda tínhamos que escalar
mais um morro ante de seguir na direção de Bombinhas. O final desse trecho de
Praia era exatamente na entrada de um camping, com uma ladeira dos infernos que
nos levaria mais uma vez para a floresta
Quando a paisagem finalmente se
abriu, avistamos um lindo costão rochoso. Agora, essa parte da prova exigiria
muita concentração, não daria apenas para reagir. Pensar onde colocar o pé era
quase um pré-requisito.
Depois, mais uma trilha para
utilizar as quatro patas, curtas praias com rochas e já dava para avistar a
Pousada Vila Farol, local de chegada. Cruzei o pórtico bem sério, concentrado e
emocionado
De fato, a K42 foi uma corrida
diferente, na qual o maior desafio foi vencer os meus limites.
Ainda sonhado com a coca-cola gelada,
peguei minha medalha, tomei uns seis copos de maltodextrina e fui cumprimentar
os amigos.
Antes de apresentar o resultado
final, gostaria de destacar algumas pérolas resgatadas da correspondência
secreta da
ACORJA sobre a nossa preparação/participação na K42.
Amigos,
A previsão do tempo e o horário da maré estão do nosso lado:
Sol com muitas nuvens durante o dia e períodos de céu
nublado.
Temperatura média de 20º dia e 15º noite;
Probabilidade de chuva: zero
Horário da maré baixa (-0,1): 10:40, ou seja, quando
estivermos correndo na praia poderemos fugir da areia fofa. Agora é só correr e
ser feliz!
Gilmar
Show!
Vovó previu essa temperatura e por isso me deixou ir!! kkkk!!
Paulo Sobral
Tudo está perfeito, menos o ex mago véi que vos fala...
Comecei o regime, mas não tive tempo para treinar.
Tô me sentindo muito pesado...
Acho que vou ficar só na torcida.
Parabéns, Almir. Acho que vai ser WxO
Júlio Cordeiro
Kkkkkk...
Desde que você pague a aposta está tudo certo...
A turma da tesoura já tá com a boca seca, esperando esse
gatorade espumoso...
Come essa sugesta não, viu Almir!!!
Boa viagem e boa prova a todos, divirtam-se muito!!
Emerson Barbosa
Que marmota da murrinha, tu tá querendo pegar Almir
desprevenido é?
Esse matuto “véi” tá aprontado alguma.
Quem vai ficar na torcida sou eu, vocês (principalmente o “mago
véi”) vão correr e muito.
Por fim, na Acorja não existe WO, é correr pra se lascar e
escapar da resenha de Almir.
Tô torcendo por vocês,
Hélder Zambetinha
Almir, “mermão”... cuidado com o “Mago véi do buchim”, esse
matuto é estrategista, deve tá preparando qualquer coisa, menos desistir do
embate!
Fique firme aí nessas suas canelas de sabiá que eu estou no
comando da banca de apostas, por isso a cerveja mais gelada é minha!
Quero vê a Acorja deixando todo mundo de boca aberta em Bombinhas,
quero todo mundo nos chamando de loucos, sem entender de onde vem tanta
audácia!
Juliana Job
Abaixo, segue o resultado da
ACORJA na K42 Bombinhas:
1. Marcos Gelinho - 84° (04:43:12)
2. Edmilson Tartaruga - 123° (05:03:43
- 2º na faixa 54-59 anos)
3. Lula Holanda - 144° (05:14:07
- 3º na faixa 54-59 anos)
4. Gilmar Farias - 169° (05:24:34)
5. Pamela Moura -179° (05:27:31)
6. Júlio Cordeiro - 203° (05:39:12)
7. Almir Duarte - 214º (05:42:53)
8. Enildo Silva - 233° (05:47:26)
9. Paulo Sobral - 336° (06:44:44)
10. Severino Henrique - WO